Inside Llewyn Davis: Às histórias dos fracassados

Vinicius Fagundes
3 min readOct 24, 2017

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Por mais que sejamos fãs das artes da cultura pop e estejamos calejados de todas as encarnações narrativas que este mundo industrial nos despeja diariamente, há espaço para o novo. Se não totalmente original, ainda assim reimaginando histórias por vezes eclipsadas pelas fórmulas de sucesso que garantem a próxima volta do moinho. Mas, por que se apegar a formatos de êxito comercial se a história a ser narrada é justamente do fracasso a essa busca? Talvez isso tenha passado pela cabeça de Joel e Ethan Coen enquanto realizavam uma de suas mais simbólicas obras.

Llewyn

Conhecidos por filmar desventuras de heróis improváveis que não ultrapassam a etapa da negação em suas jornadas pessoais, os Irmãos Coen aplicam seu modelo de tragicomédia a diversos perfis de protagonistas: de professor universitário a um aspirante a gângster. Porém, poucas vezes a encarnação do fracassado esteve tão claramente representada como o é em Inside Llewyn Davis. Aqui, assistimos a rotina do vagabundo cantor e compositor de folk Llewyn Davis dentro de sua saga pessoal pelo sucesso no mundo da música.

Enquanto vaga errante pela Nova York dos anos 60, apesar do talento e carisma evidentes, Llewyn é a todo momento confrontado com a realidade da industria do show business de que não será capaz de se encaixar e ser aceito. Sempre lhe falta algo.

À companhia apenas de seu violão e um indesejado gato, o músico vai se desfazendo dos poucos aliados que possui, por sempre falhar e se mostrar pouco confiável a todos. Sua personalidade derrotista, além de travar a própria carreira — ou a tentativa de construir uma — , deteriora todas as relações interpessoais que mantinha, como uma sistema de defesa para os outros de si mesmo.

Esta ode ao fracasso é capaz de impactar dessa forma extraordinária pois é a história da maioria de nós. É a história pouco (ou jamais) contada, aquela que fica escondida em algum porão enquanto expomos na sala de visitas qualquer frágil símbolo de vitória. Numa cena grandiosa em sua simplicidade, das palavras “good advice”, aliadas ao soturno e penoso olhar que receberam como resposta, ficam aqueles momentos que pinçamos do filme e relembramos durante dias. O interlocutor não sabia o significado daquele conselho, mas nós sim — um segredo que passamos a compartilhar com Llewyn.

A cena citada, inclusive, é o auge da absolutamente fantástica atuação de Oscar Isaac. A adjetivação não é exagerada. Esse é daqueles papéis que parecem terem sido escritos com o ator já em mente e acertado. Difícil acreditar que teve um processo de casting.

Ah, o nome do gato é Ulisses, mas e daí? Fodam-se Homero e James Joyce. Em rápida pesquisa no google há várias teorias sobre isso e o significado da cena derradeira, quando o que importa de verdade é que terminamos tomando porrada uma história que assim começamos, afinal, não é assim a maior parte dos “causos” engraçados que vivemos e contamos para os amigos por aí? No fim das contas somos nós mesmos os culpados pelas surras que levamos, e quase sempre não tem ninguém para ver.

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